Até amanhã, camaradas!

Álvaro Cunhal

 

Porque nos falaste do mundo novo? “Porque em cada bandeira vermelha Se ergue a vontade infinita de liberdade Na garganta altiva de um povo!” A preto e branco desenhaste o Alentejo Manchado no vermelho das espingardas De um filho e uma Catarina Embalados no colo sereno da razão! Nas mofas celas que cruzaste Um grito alucinante trespassou paredes Abraçou a cidade inteira, o jardim, Numa nuvem de esperança feito porvir Era a tua alma livre, o teu peito aberto A tua mão fechada e firme O teu sonho de democracia a florir… O sonho aconteceu… Nas tribunas das fábricas Onde o trabalho amarrado esvaziava de esperança Os braços sequiosos de igualdade Na sombra dos sobreiros Onde a fome dormitava nos estômagos vazios De quem exigia o direito ao trabalho Na proa das embarcações Onde a miséria vestia de samarras O frio de quem queria ser alguém Nas redacções dos jornais Onde o silêncio redigia páginas de nada Mentiras piedosas e benquistas Nos bastidores da televisão Onde desfilavam na passerelle da traição Os fúteis coveiros deste país Foste o livro que ensinou o valor da luta A palavra persistente e verdadeira De quem ergueu o estandarte do socialismo Como mais justo futuro da humanidade De quem apontou a queda do capitalismo Que tem corrompido a sociedade! Foste a palavra certa no momento certo O escudo contra os traidores O ponto final na falsidade A interpretação correcta da verdade! Foste a escola de quantos acreditam Que com o exemplo da tua luta Poderão construir a nova sociedade! As labaredas inflamadas da tua voz São luzes que incendeiam a nossa estrada…! Por isso até sempre Até sempre camarada! 

 

                                               

 

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